14 apr 2008
O último inventário florestal nacional realizado em Moçambique (Saket, 1994) com base em imagens satélite de 1992 determinou que 77,8% do país estava na altura coberto por vegetação natural. A classificação desta vegetação e as áreas encontradas estão mostradas na tabela 1 abaixo.

Tabela 1: Cobertura florestal em Moçambique

Tipo

Descrição

Área (há)

%

HF1 ou 1.1

Floresta alta (high forest) fechada[1]

171.734

0.22

HF2 ou 1.2

Floresta alta medianamente densa[2]

231.419

0.29

HF3 ou 1.3

Floresta alta aberta[3]

254.167

0.32

Total HF

657.320

0.83

LF1 ou 2.1

Floresta baixa (low forest) fechada

1.005.675

1.27

LF2 ou 2.2

Floresta baixa medianamente densa

3.007.213

3.78

LF3 ou 2.3

Floresta baixa aberta

6.892.650

8.67

Total LF

10.905.538

13.72

3.1

Matagal (thicket) fechado

8.172.542

10.28

3.2

Matagal medianamente denso

10.737.724

13.51

3.3

Matagal aberto

15.540.747

19.55

Total Tipo 3

34.451.013

43.34

4.1

Savana arbórea (wooded grassland)

15.417.450

19.4

4.2

Savana arbórea aberta

4.696.907

5.91

Total Tipo 4

20.114.357

25.31

M – Mangais

396.080

0.50

Outras áreas (incluindo agricultura)

12.952.725

16.30


Total

79.477.032

100

Fonte: Saket, 1994

As áreas classificadas como floresta com capacidade para produção de madeira são as dos tipos 1.1/2/3, 2.1/2/3 e 3.1, que perfazem um total de 19.735.400 ha ou 24% do território nacional. Estes tipos florestais estão principalmente concentrados nas províncias de Sofala, Zambézia, Niassa, Nampula e Cabo Delgado.

Segundo o PROAGRI (1997), dos quase 80 milhões de ha que formam Moçambique, aproximadamente 48 milhões de hectares possuem cobertura florestal. Desta área, cerca de 10 milhões de hectares estão declarados como áreas protegidas (12,6% do território), 12 milhões de ha constituem as florestas produtivas com bom potencial para concessões florestais (15% do território) e os restantes 26 milhões de hectares são classificados como áreas de uso múltiplo, com potencial para maneio extensivo dos recursos florestais.

O inventário nacional estimou um incremento anual de 1,195 milhões de metros cúbicos ao ano de madeira com diâmetros (DAP) superiores a 25cm, e cerca de 500 mil m3/ano para diâmetros superiores a 40 cm. O stock total de crescimento nos tipos florestais considerados madeireiros foi estimado em 503 milhões de m3, sendo cerca de 68 milhões de m3 para DAP>25 cm, e 22 milhões de m3 para DAP > 40 cm.

A vegetação de Moçambique pode ser classificada da seguinte forma simplificada (Costa, 1996):

§ Florestas sempreverdes de montanha

§ Florestas de miombo

§ Povoamentos de mopane

§ Povoamentos de cimbirre

§ Savanas com predominância de espinhosas

§ Pradaria ( ticket)

§ Mangais

§ Outras florestas ou formações em mosiaco

As florestas de miombo consistem no tipo de vegetação predominante no país, ocorrendo sobretudo no norte do país. Este tipo de vegetação estende-se desde o extremo norte até ao rio Limpopo podendo ser intercalado com a vegetação costeira e as florestas do vale do Zambeze.Os mangais da costa oriental de África, nos quais estão incluídos os mangais da zona costeira de Moçambique foram considerados como “florestas vulneráveis” pelo WWF.

As florestas do país encontram-se sujeitas à exploração florestal descontrolada no qual predomina o sistema de extracção com base em licença simples, sendo a lenha, produção de carvão, produção de toros e madeira os principais produtos.

1.2 O desmatamento

A taxa de desmatamento a nível nacional num período de 18 anos – entre 1974 e 1992 foi estimada em 4,27% (0,23% ao ano), apesar de que em certas províncias, como é o caso de Maputo, esta taxa foi substancialmente mais alta (19 % no período, ou 1,1% ao ano). O período estudado foi caracterizado por baixo desempenho económico em todos os sectores produtivos. Esta tendência foi revertida a partir de 1994, quando a economia nacional passou a crescer a taxas de 7 a 10% ao ano. É muito provável que as taxas de desmatamento no período 1994 – 2002 tenham sido bem mais altas que as do período estudado anteriormente. Por exemplo, para o período de 1990 a 1997 em alguns distritos seleccionados como importantes no abastecimento de combustíveis lenhosos e para produção agrícola foi estimado uma taxa média ponderada de desmatamento anual de 5.7%/ano. A conversão dos tipos florestais ( LF1, LF2 e LF3) para outros tipos de vegetação arbustiva com árvores dispersas ( WG, T) foi estimada em 4.4 %/ano. ( Monjane, 2000)


O crescimento da florestas

Não existe em Moçambique uma estimação baseada em dados de campo do crescimento das florestas naturais do país. Clément (1982) mencionado por FAO (2000) desenvolveu modelos de estimação do crescimento da floresta natural de África ocidental com base na precipitação. Quando se considera a precipitação, Moçambique pode ser dividido em três grandes regiões (norte, centro e sul) e consequentemente a productividade das florestas variam de 0.58 m3/hectare/ano a 1.36 m3/hectare/ano sendo as florestas do centro do país classificadas como a mais produtivas:

Maputo, Gaza e Inhambane ( região sul) – 0.58 m3/ha/ano

Manica, Sofala e Zambezia (região centro) – 1.61 m3/ha/ano

Nampula, Cabo Delgado e Niassa (região norte) - 1.36 m3/ha/ano

Costa (1986) relata que as plantações de Afzelia quanzensis e Pterocarpus angolensis de Michafutene alcançaram um incremento médio anual de 0.25 m3/ha/ano para a chanfuta ( Afzelia quanzensis) e 0.76-1.17 m3/ha/ano para a umbila (Pterocarpus angolensis).

Dados derivados de medições efectuadas em 1993 na Estação Experimental de Sussundenga em espécies nativas plantadas individualmente ou em mistura estabelecidas em 1960 revelaram um incremento médio anual entre 1.1 m3/ha/ano a 7.7 m3/ha/ano (Nakala, 1997).

Resultados preliminares de 4 parcelas permanentes estabelecidas em áreas de exploração florestal de Barué-Manica mostraram que mais de 94% das árvores tiveram um incremento anual diamétrico entre 0.0 e 1 cm/ano. As espécies do estrato superior obtiveram um incremento mediano maior ( 0.37 cm/ano) enquanto que as espécies do estrato inferior apresentaram o menor incremento diamétrico - 0.24 cm/ano. (Sitoe, 1999)

Com base nos dados de campo, ainda que escassos, é possível observar que o crescimento das florestas nativas do país é lento, principalmente se comparado com os incrementos obtidos nas plantações de espécies exóticas de rápido crescimento ( 8 m3/ha/ano a 15 m3/ha/ano). Por outro lado, é este crescimento lento que proporciona qualidade excepcional à madeira das espécies nativas cuja densidade básica das principais espécies preciosas e de primeira classe varia de 636 a 1330 kg/m3 ( Tabela 2)

Tabela 2 – Densidade das principais espécies comerciais do país

Nome comercial

Nome científico

Classificação

Diâmetro mínimo de corte

Densidade normal a 12%

( Kg/m3)

Pau-preto

Dalbergia melanoxylon

Preciosa


1330

Pau- rosa

Berchemia zeyheri

Preciosa


1023

Chacate preto

Guibourtia conjugata

Preciosa


1110

Sandalo

Spirostachys africana

Preciosa


1022

Jambirre

Millettia stuhlmannii

1a classe


825

Chanfuta

Afzelia quanzensis

1a classe


792

Umbila

Pterocarpus angolensis

1a classe


636

Mecrusse

Androstachys Johnsonii

1a classe


880

Umbaua

Khaya nyasica

1a classe


697

Pau-ferro

Swartzia madagascariensis

1a classe

30

1112

Monzo

Combretum imberbe

1a classe

40

1229

Mucarala

Burkea africana



885

Messassa encarnada

Julbernardia globiflora

2a classe


863

É também a densidade das espécies nativas o principal argumento para a exportação em toros uma vez que no país não existe a tecnologia e incentivo necessário para a serragem e transformação das espécies de maior densidade.


Fonte: Estratégia de Capacitação na área de Certificação Florestal, UNIVERSIDADE EDUARDO MONDLANE, FACULDADE DE AGRONOMIA E ENGENHARIA FLORESTAL, Editado por: Carla R. Pereira, Mario Michaque, Fátima Kanji




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Marcos Giongo
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